"SOU UM LABIRINTO EM BUSCA DE SAÍDA." (Vinícius de Moraes)







segunda-feira, 12 de julho de 2010

FRASES E POEMAS REVELAM ESSÊNCIA DE MAYAKOVSKY


"AMAR não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito,desconfio que haja falta de AMOR."

"A poesia é uma forma de produção. Dificílima, complexíssima, porém produção."

"Sem forma revolucionária não há arte revolucionária."

"Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem."

"Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas."

"Traduzir poemas é tarefa difícil, especialmente os meus."

"Uma outra razão da dificuldade da tradução de meus versos vem de que introduzo nos versos a linguagem quotidiana, falada..."

"Tais versos só são compreensíveis e só têm graça se se sente o sistema geral da língua, e são quase intraduzíveis, como jogos de palavras."

"A arte não é um espelho para reflectir o mundo, mas um martelo para forjá-lo."

"Se a criança é um porquinho, quando adulto não poderá ser outra coisa senão um porco."

"Não é difícil morrer nesta vida / Viver é muito mais difícil."

"Nos demais, todo mundo sabe, o coração tem moradia certa, fica bem aqui no meio do peito, mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração."

DESPERTAR É PRECISO
Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.

V INTERNACIONAL
Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.

ESCÁRNIOS
Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes, entregarei a
alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas esses que sob a
árvore nutriz escavam com seus focinhos as raízes.

BLUSA FÁTUA
Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"

Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!

Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!

A FLAUTA VÉRTEBRA
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

EU
Nas calçadas pisadas
de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
Onde forcas esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
pescoço de torres oblíquas
só soluçando eu avanço
por vias que se encruzilham
à vista de crucifixos polícias

FRAGMENTOS 1
Me quer ? Não me quer ?
As mãos torcidas os dedos despedaçados
um a um extraio assim tira a sorte
enquanto no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso.

FRAGMENTOS 2
Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez sinta o mesmo
no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te
com o relâmpago
de mais um telegrama.

FRAGMENTOS 3
O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano.

FRAGMENTOS 4
Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo.

FRAGMENTOS 5
Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.

DEDUÇÃO
Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

COMUMENTE É ASSIM
Cada um ao nascer
traz sua dose de amor,
mas os empregos,
o dinheiro,
tudo isso,
nos resseca o solo do coração.
Sobre o coração levamos o corpo,
sobre o corpo a camisa,
mas isto é pouco.
Alguém
imbecilmente
inventou os punhos
e sobre os peitos
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem.
A mulher se pinta.
O homem faz ginástica
pelo sistema Muller.
Mas é tarde.
A pele enche-se de rugas.
O amor floresce,
floresce,
e depois desfolha.

* Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (em russo: Владимир Владимирович Маяковский) nasceu em Bagdadi, Geórgia, no dia 07/07/1893, e faleceu em Moscou, Rússia, no dia 14/04/1930. Mayakovsky foi um intelectual e poeta de grandes paixões, conseguindo ser arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo, criando uma obra profundamente revolucionária na forma e nas idéias que defendeu, apresentando-as sempre de forma coerente, original, veemente, una. Essa sua postura libertária fez com que vivesse em constante confronto com os “burocratas’’ que comandavam a ditadura comunista que então vigorava na Unisão soviétiva, que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas, e pode ter sido o motivo de sua morte pois, apesar da versão oficial garantir que ele teria cometido o suicídio, com um tiro no peito, existem fortes indícios de que teria sido "suicidado", em uma trama friamente planejada e executada pela KGB, a polícia política soviética.

4 comentários:

  1. Maiakovski era membro do Partido Bolchevique, grande revolucionário socialista, não morreu por ordem de ninguém, acabou sucumbindo pela infelicidade de ser de carne e osso, ou seja, apenas seus poemas são imortais.
    Stálin tinha grande admiração por sua obra, então e descabida a informação de que ele havia dado qualquer ordem de execução, e nem existia KGB em 1930...

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    1. Todo cidadão das URSS era, por força de circunstância, membro do partido bolchevique. Fica muito clara a posição de Mayakovski quando se lê o seu poema "DESPERTAR É PRECISO" escrito no âmbito bolchevique. CERTAMENTE foi ASSASSINADO pelo partido.
      Com relação ao KGB ele surgiu com o final da Segunda Guerra Mundial, no período da Guerra Fria, com o colapso do então serviço secreto NKVD, apesar de suas origens remontarem a antes da Revolução de 1917, quando Félix Dzerzhinski fundou o grupo paramilitar denominado Tcheka — a instituição que seria a matriz de todos os serviços secretos da URSS. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/KGB ). É bom estudar antes de dizer besteiras, UESB.

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  2. Falta de estudo e de leitura. O poema DESPERTAR É PRECISO não é do Grande Mayakovski, mas sim do brasileiro EDUARDO ALVES DA COSTA

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  3. EIS O POEMA COMPLETO!

    NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI - Eduardo Alves da Costa}

    Assim como a criança
    humildemente afaga
    a imagem do herói,
    assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
    Não importa o que me possa acontecer
    por andar ombro a ombro
    com um poeta soviético.
    Lendo teus versos,
    aprendi a ter coragem.

    Tu sabes,
    conheces melhor do que eu
    a velha história.
    Na primeira noite eles se aproximam
    e roubam uma flor
    do nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem:
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a luz e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz da garganta.
    E já não podemos dizer nada.

    Nos dias que correm
    a ninguém é dado
    repousar a cabeça
    alheia ao terror.
    Os humildes baixam a cerviz:
    e nós, que não temos pacto algum
    com os senhores do mundo,
    por temor nos calamos.
    No silêncio de meu quarto
    a ousadia me afogueia as faces
    e eu fantasio um levante;
    mas amanhã,
    diante do juiz,
    talvez meus lábios
    calem a verdade
    como um foco de germes
    capaz de me destruir.

    Olho ao redor
    e o que vejo
    e acabo por repetir
    são mentiras.
    Mal sabe a criança dizer mãe
    e a propaganda lhe destrói a consciência.
    A mim, quase me arrastam
    pela gola do paletó
    à porta do templo
    e me pedem que aguarde
    até que a democracia
    se digne aparecer no balcão.
    Mas eu sei,
    porque não estou amedrontado
    a ponto de cegar, que ela tem uma espada
    a lhe espetar as costelas
    e o riso que nos mostra
    é uma tênue cortina
    lançada sobre os arsenais.

    Vamos ao campo
    e não os vemos ao nosso lado,
    no plantio.
    Mas no tempo da colheita
    lá estão
    e acabam por nos roubar
    até o último grão de trigo.
    Dizem-nos que de nós emana o poder
    mas sempre o temos contra nós.
    Dizem-nos que é preciso
    defender nossos lares,
    mas se nos rebelamos contra a opressão
    é sobre nós que marcham os soldados.

    E por temor eu me calo.
    Por temor, aceito a condição
    de falso democrata
    e rotulo meus gestos
    com a palavra liberdade,
    procurando, num sorriso,
    esconder minha dor
    diante de meus superiores.
    Mas dentro de mim,
    com a potência de um milhão de vozes,
    o coração grita - MENTIRA!

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