quinta-feira, 6 de outubro de 2011
O SOFRIMENTO NO AMOR (ARTUR DA TÁVOLA)
Vendo o sofrimento de quem ama cheguei a três perguntas tão simples quando a dificuldade de a elas se alcançar. Faço-as de forma coloquial:
1) – Sou eu que faço você sofrer?
2) – Ou é você que sofre por minha causa?
3) – Ou, ainda, é você que sofre por sua própria causa:
O que está acima formulado deve ser encadeado para dar, melhor, a idéia da mistura das linhas de sofrimento que se cruzam no amor: sou eu que faço você sofrer. É você que sofre por minha causa ou é você que sofre por sua própria causa?
Responder a essas perguntas (leva anos) é essencial na relação de amor. A resposta demandará tempo, sofrimento, em cada caso, será diferente. Se encontrada, melhorará qualquer relação. Ou constará o seu termino.
Suprimirei a terceira parte da pergunta (“é você que sofre por sua própria causa”). Ela existe me milhares de casos. Talvez seja o mais freqüente. Quando a pessoa sofre apenas por sua própria causa, o problema fica reduzido a ela, que deve tratar-se ou buscar alguma forma de melhorar. Independe da relação amorosa, embora sobre ela faça incidir seus resultados.
A pergunta ficará então mais simples: “Sou eu que faço você sofrer ou é você que sofre por minha causa?” Dá no mesmo. Depende de quem diga.
Se sou eu que faço sofrer, então são os meus atos, atitudes e ações, os geradores do seu sofrimento. Nesse caso, ou mudo, ou continuarei provocando sofrimentos. Será uma questão de cessar os atos, ações, atitudes ou comportamentos feitos (consciente ou inconscientemente) para provocar sofrimento, por sadismo, egoísmo, incapacidade de perceber as fronteiras da sua tolerância, ou por raiva, vingança, neurose.
Se é você que sofre por minha causa, tudo é diferente, embora igual possa parecer. Os meus atos, atitudes, reações, comportamentos, mesmo sem qualquer intenção ofendem, fazem mal, danificam, fazem sofrer. Por que? Porque você sofre por minha causa. O sofrimento não é causado por mim. Ele está em você e eu o causo, ou potencializo. Mesmo não desejando ver você sofrer, pelo simples fato de ser como sou, você estará sofrendo. Não sou eu quem faz você sofrer. O sofrimento é causado por mim. Ser o que sou e quem sou, faz você sofrer, irrita de graça, machuca sem querer.
Na vida e na relação do amor, as duas faces dessa realidade misturam-se, interpenetram-se, atrapalham-se. Num par amoroso há atitudes conscientes, e sobretudo inconsciente, feitas para o outro sofrer e uma tendência desse outro de sofrer por causa do parceiro, independente do que ela faça.
Êta bichinho complicado, esse tal de ser humano.
* Artur da Távola, pseudônimo usado por Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, (Rio de janeiro, 03/01/1936 — Rio de Janeiro, 09/05/2008), foi advogado, jornalista, radialista, professor, político e escritor, tendo deixado um acervo de 23 livros de contos e crônicas publicados.
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