"SOU UM LABIRINTO EM BUSCA DE SAÍDA." (Vinícius de Moraes)







terça-feira, 14 de junho de 2011

NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL (ROBERTO DARTE)

Ao contrário do que se prega comumente por aí, eu defendo a tese de que ninguém é substituível. O ser humano, por mais que seja visto como força de trabalho pela ótica socioeconômica, é absolutamente único, enquanto marca espiritual divina. Exatamente por isto cada um de nós será único em tudo que fizer, ainda que outros milhares também possam fazer o mesmo ou até melhor.

O paradigma do trabalhador como mera peça de uma engrenagem ganhou força no século 18 com a Revolução Industrial. No filme “Tempos Modernos” Charlie Chaplin aborda este tema de forma magistral. Os operários de uma fábrica perdem a altivez dos artesãos, que são partes integrais de suas obras, para se tornar extensões das máquinas que ajudam a operar. Neste contexto, Chaplin deixa para reflexão uma de suas célebres frases: “Não sois máquinas! Homens é que sois!”.

Dia desses recebi um e-mail (daqueles sem autoria) com uma abordagem interessante sobre o chavão “ninguém é insubstituível”. No texto é mencionada uma sala de reunião de uma multinacional, onde o diretor geral, bastante nervoso, fala com sua equipe de gestores. “Ele agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um, ameaça: ‘ninguém é insubstituível’”.

Essa frase é tão contundente que, aparentemente, não cabe qualquer contra-argumento. Ela parece estar no mesmo patamar do “não somos imortais”. Contestá-la pode soar arrogante, pretensioso.

Na história do autor desconhecido, no entanto, tudo ganha outra dimensão. Assim que o diretor adverte seus subordinados de que eles são peças passíveis de serem trocadas, deixando-os cabisbaixos e silenciosos, eis que surge um inconformado (e provavelmente um insubstituível!). A partir daí é travado o seguinte diálogo:
“De repente um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido:
- Alguma pergunta?
- Tenho sim. E Beethoven?
- Como? - o encara o gestor confuso.
- O senhor disse que ninguém é insubstituível. E quem substituiu Beethoven? E Jorge Amado, Graham Bell, Pablo Picasso, Karl Marx, Isaac Newton, Beatles, Tom Jobim, Ayrton Senna, Ghandi, Monteiro Lobato, Frank Sinatra, Dorival Caymmi, Mané Garrincha, Santos Dumont?”

A lista acima é interminável, contando apenas aqueles que se tornaram famosos por ter se destacado em suas respectivas áreas de atuação profissional. Eu poderia, sem muito esforço, lembrar-me de, pelo menos, uma centena de nomes – desconhecidos para a história e para aqueles que estejam lendo este texto – que foram ou são peças fundamentais em minha trajetória. Todos diferentes no jeito de pensar e sentir, mas insubstituíveis em seus próprios papéis quanto a mim e quanto aos tantos outros que fizeram ou fazem parte de suas vidas. Famosos ou anônimos, fortes ou fracos, bonitos ou feios, todos têm a sua própria luz, capaz de fazer a diferença nos infindáveis tipos de escuridão.

No mesmo e-mail que recebi há um trecho em que é citada a seguinte fala do “trapalhão” Dedé Santana no primeiro programa após a morte do inesquecível Zacarias: “estamos todos muito tristes com a partida de nosso irmão Zacarias... E hoje, para substituí-lo, chamamos... Ninguém, pois nosso Zaca é insubstituível”.

É possível encontrar novos funcionários para as vagas dos que saíram, novos amigos para amenizar a falta dos que estão distantes, novos amores para os corações partidos... Eles, entretanto, nunca terão a mesma essência dos que ficaram para trás.

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