quinta-feira, 2 de junho de 2011
CONHEÇA A ORIGEM DE ALGUNS DITADOS POPULARES
Ditado popular ou provérbio é uma frase de caráter popular, com um texto mínimo e de autor anônimo, que é várias vezes repetido e se baseia no senso comum de um determinado meio cultural, como por exemplo: “O seguro morreu de velho”. É a expressão que se mantém imutável através dos anos, constituindo uma parte importante de cada cultura.
Veja a seguir algumas curiosidades:
Expressões populares, usadas ingenuamente por nós, têm origens bem antigas e histórias interessantes.
*** Vários são os ditados provindos da mitologia grega:
VOTO DE MINERVA
Orestes, filho de Clitemnestra, é acusado do assassinato da mãe. No julgamento, houve empate. Coube a deusa Minerva o voto decisivo, que foi em favor do réu. Voto de Minerva é o voto decisivo.
CALCANHAR DE AQUILES
A mãe de Aquiles, Tétis, com o objetivo de tornar seu filho invulnerável, mergulhou-o num lago mágico, segurando o filho pelos calcanhares. Páris feriu Aquiles na Guerra de Tróia, justamente onde? Isso mesmo, no calcanhar. Portanto, o ponto fraco ou vulnerável de um indivíduo, por metáfora, é o calcanhar de Aquiles.
*** Agora é a vez das religiosas:
VÁ SE QUEIXAR AO BISPO
No tempo do Brasil colônia, por causa da necessidade de povoar as novas terras, a fertilidade na mulher era um predicado fundamental. Em função disso, elas eram autorizadas pela Igreja a transar antes do casamento, única maneira de o noivo verificar se elas eram realmente férteis. Ocorre que muitos noivinhos fugiam depois do negócio feito. As mulheres iam queixar-se ao bispo, que mandava homens atrás do fujão.
CONTO DO VIGÁRIO
Duas igrejas em Ouro Preto receberam um presente: uma imagem de santa. Para verificar qual da paróquias ficaria com o presente, os vigários resolveram deixar por conta da mão divina, ou melhor, das patas de um burro. Exatamente no meio do caminho entre as duas igrejas, colocaram o tal burro, para onde ele se dirigisse, teríamos a igreja felizarda.
Assim foi feito, e o vigário vencedor saiu satisfeito com a imagem de sua santa. Mas ficou-se sabendo mais tarde que o burro havia sido treinado para seguir o caminho da igreja vencedora. Assim, conto do vigário passou à linguagem popular como falcatrua, sacanagem.
*** Histórias de Portugal:
CASA DA MÃE JOANA
Na época do Brasil Império, mais especificamente na época da minoridade do Dom Pedro II, os homens que realmente mandavam no país costumavam se encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro cuja proprietária era justamente a Joana. Como eles mandavam e desmandavam no país, ficou a frase casa da mãe Joana como sinônimo de lugar em que ninguém manda.
FICAR A VER NAVIOS
O rei de Portugal, Dom Sebastião, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, mas o corpo não foi encontrado. A partir de então (1578), o povo português esperava sempre o sonhado retorno do monarca salvador. Lembremos que, em 1580, em função da morte de Dom Sebastião, abre-se uma crise sucessória no trono vago de Portugal. A conseqüência dessa crise foi a anexação de Portugal à Espanha (1580 a 1640), governada por Felipe II. Evidentemente, os portugueses sonhavam com o retorno do rei, como forma salvadora de resgatar o orgulho e a dignidade da pátria lusa. Em função disso, o povo passou a visitar com freqüência o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, esperando, ansiosamente, o retorno do dito rei. Como ele não voltou, o povo ficava apenas a ver navios.
Várias piadas são provenientes deste ditado. Uma delas faz graça do casamento de Jaqueline com Onássis, grande construtor de navios. Na lua de mel, Jaqueline teria ficado diante da janela do quarto, e Onásis dizendo-lhe os nomes dos navios atracados no porto. Logo, na lua de mel, ela ficou apenas a ver navios, como o povo português.
É importante frisar também que a morte de Dom Sebastião inaugura o sebastianismo, que se trata simplesmente disto: a chegada do salvador. Várias crenças advêm daí. Entre elas podemos destacar a guerra de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro.
NÃO ENTENDO PATAVINAS
Os portugueses, conta a história, tinham dificuldades em entender os que diziam os frades franciscanos patavinos, isto é, originários de Pádua, em italiano Padova. Não entender patavina significa não entender nada.
DOURAR A PÍLULA
Vem das farmácias que, antigamente, embrulhavam as pílulas em requintados papéis, para dar melhor aparência ao amargo remédio. Logo, dourar a pílula é melhorar a aparência de algo.
CHEGAR DE MÃOS ABANANDO
Os imigrantes, no século passado, deveriam trazer as ferramentas para o trabalho na terra. Aqueles que chegassem sem elas, ou seja, de mãos abanando, davam um indicativo de que não vinham dispostos ao trabalho árduo da terra virgem. Portanto, chagar de mãos abanando é não carregar nada. Ele chegou de mãos abanando ao aniversário. Significa que não trouxe presente ao pobre aniversariante, que terá de se satisfazer apenas com a presença do amigo.
VOX POPULI, VOX DEI - A VOZ DO POVO, A VOZ DE DEUS
Câmara Cascudo, em Superstição no Brasil, nos esclarece a origem deste ditado.
É hábito nosso fazer adivinhações, por exemplo, como saber o nome do futuro marido ou da futura mulher? Existem várias crenças. Uma delas é colocar uma moeda na fogueira e, pela manhã, retirá-la do braseiro. Em seguida, dá-se esmola ao primeiro pedinte. O nome do mendigo será o nome do futuro noivo. Outra registrada por Câmara Cascudo é a superstição de pôr-se água na boca e esconder-se atrás de uma porta. O primeiro nome ouvido será o do futuro cônjuge.
A curiosidade é que este hábito não é apenas brasileiro, mas tem origem européia. As pessoas consultavam o deus Hermes, na cidade grega de Acaia, e faziam uma pergunta ao ouvido do ídolo. Depois o crente cobria a cabeça com um manto e saía à rua. As primeiras palavras que ele ouvisse eram a resposta a sua dúvida. Assim, a voz do povo, a voz de Deus.
Curiosamente, também daí se origina a crença no primeiro como símbolo importante: o primeiro filho, por exemplo. O primeiro passo, ao se entrar num recinto, pé direito, para dar sorte. E o primeiro sutiã a gente nunca esquece. E o primeiro marido?
SEM EIRA NEM BEIRA
O cidadão não tem eira nem beira. Isso quer dizer que o indivíduo está sem dinheiro, desapercebido.
Pois eira, na verdade, tratava-se de um detalhe no acabamento dos telhados de antigamente. Possuir a eira e a beira era sinal de riqueza e de cultura. Os tempos passaram, no entanto sempre os homens buscam revelar sinais externos de poder e riqueza.
É claro que hoje os acabamentos nos telhados não significam muito. Talvez o maior sinal exterior de riqueza seja o automóvel. Se for um importado, está com tudo em cima. Se for uma brasília, bom, aí o cara está sem eira nem beira.
VAI TOMAR BANHO
Em "Casa Grande & Senzala", Gilberto Freyre analisa os hábitos de higiene
dos índios versus os do colonizador português. Depois das Cruzadas, como
corolário dos contatos comerciais, o europeu se contagiou de sífilis e de
outras doenças transmissíveis e desenvolveu medo ao banho e horror à nudez,
o que muito agradou à Igreja. Ora, o índio não conhecia a sífilis e se
lavava da cabeça aos pés nos banhos de rio, além de usar folhas de árvore
pra limpar os bebês e lavar no rio as redes nas quais dormiam. Ora, o cheiro
exalado pelo corpo dos portugueses, abafado em roupas que não eram trocadas
com freqüência e raramente lavadas, aliado à falta de banho, causava
repugnância aos índios. Então os índios, quando estavam fartos de receber
ordens dos portugueses, mandavam que fossem "tomar banho".
ELES QUE SÃO BRANCOS QUE SE ENTENDAM
Esta foi das primeiras punições impostas aos racistas, ainda no século XVIII
Um mulato, capitão de regimento, teve uma discussão com um de seus
comandados e queixou-se a seu superior, um oficial português.. O capitão
reivindicava a punição do soldado que o desrespeitara. Como resposta, ouviu
do português a seguinte frase: "Vocês que são pardos, que se entendam". O
oficial ficou indignado e recorreu à instância superior, na pessoa de dom
Luís de Vasconcelos (1742-1807), 12° vice-rei do Brasil. Ao tomar
conhecimento dos fatos, dom Luís mandou prender o oficial português que
estranhou a atitude do vice-rei. Mas, dom Luís se explicou: Nós somos
brancos, cá nos entendemos.
A DAR COM O PAU
O substantivo "pau" figura em várias expressões brasileiras. Esta expressão
teve origem nos navios negreiros. Os negros capturados preferiam morrer
durante a travessia e, pra isso, deixavam de comer. Então, criou-se o "pau
de comer" que era atravessado na boca dos escravos e os marinheiros jogavam
sapa e angu pro estômago dos infelizes, a dar com o pau. O povo incorporou a
expressão.
ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA, TANTO BATE ATÉ QUE FURA
Um de seus primeiros registros literário foi feito pelo escritor latino
Ovídio ( 43 a .C.-18 d.C), autor de célebres livros como "A arte de amar "e
Metamorfoses", que foi exilado sem que soubesse o motivo. Escreveu o poeta:
A água mole cava a pedra dura". É tradição das culturas dos países em que a
escrita não é muito difundida formar rimas nesse tipo de frase pra que sua
memorização seja facilitada. Foi o que fizeram com o provérbio, portugueses
e brasileiros.
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