sábado, 3 de dezembro de 2011
AMOR: PERMANENTE OU INTERMITENTE? (ARTUR DA TÁVOLA)
Qual o amor é melhor: aquele que é permanente e flui sem parar ou aquele que é feito de ódio, paixão, novo ódio, novo amor, numa atividade intermitente e incerta, mas intensa?
Qual forma de amar traz a quem ama uma quantidade maior de vivências: amar constantemente como uma fonte que flui ou amar por espasmos contraditórios, vivendo os pólos do amor, da raiva, da paixão, da rejeição, da ternura? Chamemos (só para facilitar) a primeira de "amor permanente'' e a segunda de "amor intermitente."
Não sei a resposta. Sei que as duas formas existem e variam conforme o temperamento das pessoas. Umas só sabem amar deixando correr a fonte permanente dos sentimentos; outras vivendo as intermitências e alternativas (ódio-amor, amor-ódio).
Para as primeiras (amor permanente), a interferência de sentimentos aparentemente contrários (raiva, ódio, rejeição) será sempre o fator de perturbação da vida amorosa. Para as segundas (amor intermitente), o fluir constante do sentimento de amor a tudo transformará em repetição, rotina e chatice, acabando por diminuir a intensidade: essas pessoas precisam das alternativas, das constantes ameaças de perda, para fortalecer a relação.
Uma pessoa tipo amor permanente como parceiro ou parceira de outra tipo amor intermitente, dará um resultado tétrico de sofrimento para ambos. Um, porque se chateará com a permanência e a constância amorosa do outro; este, porque não tolerará as dúvidas, vacilações e oscilações daquele.
Já duas pessoas tipo amor permanente, definido, fluente, dar-se-ão bem sempre.
Igualmente duas pessoas tipo amor intermitente passarão a vida inteira entre brigas e conciliações dentro do mesmo episódio de paixão mútua. Seja numa só relação, seja em várias os tipos permanecem. Sim, porque os tipos podem existir dentro de relações duradouras ou passageiras.
Um tipo amor permanente tanto pode ter várias uniões como uma só. Mas todas serão integrais, de amor fluente. Enquanto envolto numa relação, o tipo permanente amará sem parar, com constância. Se a relação acabar, partirá para outra, sempre de maneira permanente. O amor intermitente pode viver a vida inteira numa só relação, mas ela será entrecortada de paixão, procura, ódio, tédio, saudade, busca. Ou pode viver várias relações, inclusive paralelas, todas entrecortadas, repletas de alternativas.
* Artur da Távola, pseudônimo usado por Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, (Rio de janeiro, 03/01/1936 — Rio de Janeiro, 09/05/2008), foi advogado, jornalista, radialista, professor, político e escritor, tendo deixado um acervo de 23 livros de contos e crônicas publicados.
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