"SOU UM LABIRINTO EM BUSCA DE SAÍDA." (Vinícius de Moraes)







quinta-feira, 25 de março de 2010

VERSOS ÍNTIMOS (AUGUSTO DOS ANJOS)


VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Sómente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

* Augusto dos Anjos (Cruz do Espírito Santo-PB, 20 de abril de 1884 — Leopoldina-MG, 12 de novembro de 1914) foi um poeta muitas vezes identificado como simbolista ou parnasiano.

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